domingo, 15 de julho de 2012

Emília em "A Reforma da Natureza" de Monteiro Lobato e a importância da Contação de história nas bibliotecas escolares


"Ensinar a gostar de ler não é uma tarefa fácil, mas para tanto é preciso compreender a relação do gosto pela leitura com a etimologia da palavra "saber".  Do latino "sapere" tem vários significados o qual destaco o significado ter "sabor", conhecer através do paladar, ter gosto. Então, para ter o gosto pela leitura é muito bom saborear as palavras, deliciarmos as histórias e as novas descobertas nos livros,  aumentando o nosso conhecimento.  Não é à toa que a Emília personagem de Monteiro Lobato no livro, A reforma da Natureza, pretende transformar os livros em pão! A leitura e o contato com os livros têm que ser prazerosa e não vista como uma obrigação para uma avaliação escolar. Para tanto é necessário a realização de diversas atividades de leitura na biblioteca escolar, tais como a contação de história, hora do conto, concurso de poesias dentre outros. " Tatyanne Valdez

"Eu amo contar histórias porque eu acredito que as histórias ouvidas e saboreadas por crianças, jovens e adultos podem transformar suas vidas..." Tatyanne Valdez

"Nunca esquecerei desse dia que eu estava contando história para um grupo de jovens senhores da terceira idade e após o termino da história uma integrante do grupo quis logo saber qual era o livro, o autor e anotou todas as informações... ver aquele grupo se divertindo com a história foi tão bom... através do livro podemos semear a alegria nos corações!" Tatyanne Valdez

Tatyanne Valdez - bibliotecária, atriz e contadora de histórias



Trecho do livro: A Reforma da Natureza

LIVRO COMESTÍVEL


Monteiro Lobato


“– [...] Que acha que devemos fazer para a reforma dos livros?
A Rãzinha pensou, pensou e não se lembrou de nada.
- Não sei. Parecem-me bem como estão.
- Pois eu tenho uma idéia muito boa – disse Emília. – Fazer o livro comestível.
- Que história é essa?
- Muito simples. Em vez de impressos em papel de madeira, que só é comestível para o caruncho, eu farei os livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. A tinta será estudada pelos químicos – uma tinta que não faça mal para o estômago. O leitor vai lendo o livro e comendo as folhas; lê uma, rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura, está almoçado ou jantado. Que tal?
A rãzinha gostou tanto da idéia que até lambeu os beiços.
- Ótimo, Emília! Isto é mais que uma idéia-mãe. E cada capítulo do livro será feito com papel de um certo gosto. As primeiras páginas terão gosto de sopa; as seguintes terão gosto de salada, de assado, de arroz, de tutu de feijão com torresmos. As últimas serão as da sobremesa – gosto de manjar-branco, de pudim de laranja, de doce de batata.
- E as folhas do índice – disse Emília – terão gosto de café, serão o cafezinho final do leitor. Dizem que o livro é o pão do espírito. Por que não ser também pão do corpo? As vantagens seriam imensas. Poderiam ser vendidos nas padarias e confeitarias, ou entregues de manhã pelas carrocinhas, juntamente com o pão e o leite.
- Nem precisaria mais pão, Emília! O velho pão viraria livro. O Livro-Pão, o Pão-Livro! Quem souber ler lê o livro e depois come; quem não souber ler come-o só, sem ler. Desse modo o livro pode ter entrada em todas as casas, seja dos sábios, seja dos analfabetos. Otimíssima idéia, Emília!
- Sim – disse esta muito satisfeita com o entusiasmo da Rã. – Porque, afinal de contas, isso de fazer os livros só comíveis para o caruncho é bobagem – podemos fazê-los comestíveis para nós também.
- E quem essa idéia a você, Emília?
- Foi o raciocínio. O livro existe para ser lido, não é? Mas depois que o lemos e ficamos com toda a história na cabeça, o livro se torna uma inutilidade na casa. Ora, tornando-se comestível, diminuímos uma inutilidade.
- E quando a gente quiser reler um livro?
- Compra outro, do mesmo modo que compramos outro pão todos os dias.
A idéia, depois de discutida em todos os seus aspectos, foi aprovada, e Emília reformou toda a biblioteca de Dona Benta. Fez um papel gostosíssimo e de muito fácil digestão, com sabor e cheiro bastante variados, de modo que todos os paladares se satisfizessem. Só não reformou os dicionários e outros livros de consulta. Emília pensava em tudo.” (p.37-38).


(Fonte: LOBATO, Monteiro. A reforma da natureza. São Paulo: Globo, 2008. 72p.)

2 comentários:

  1. Olá, meu nome é Marilise, trabalho no Colégio Estadual João Batista Vera, Município de Piraquara PR, não sou Bibliotecaria formada, sou Administradora, mas a 7 anos trabalho na Biblioteca do colégio.Eu amo os livros, a leitura e procuro fazer o possível para incentivar o gosto para leitura. E acho que a Biblioteca escolar é um grande começo, as vezes não da para fazer tudo o que a gente quer, mas eu acho que se cada um de nós fizer a sua parte, já valeu a pena. Criei um Blog, em que coloco um pouco de tudo para chamar a atenção para as pessoas lerem, como dizia um professor meu " leiam, nem que seja bula de remédio, mas leiam" Se quiser visitar o meu Blog, vou ficar feliz. O nome é "Vamos melhorar a educação do Brasil com a leitura ".

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